Olho Seco é uma série sonora em três episódios do artista e pesquisador Jorge Menna Barreto. Entre ciência, poesia e artes visuais, conecta a síndrome do olho seco à aridificação dos ecossistemas, mostrando como o “seco” pode inspirar novas formas de ver e habitar o planeta.
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No primeiro episódio de Olho Seco, investigo o paralelo entre o globo ocular e o globo terrestre, aproximando a síndrome do olho seco — uma pandemia silenciosa agravada pelo excesso de telas e pelo ritmo moderno — dos processos de aridificação que afetam ecossistemas no Brasil, na Califórnia e além. Em conversa com meu irmão, o oftalmologista Carlos Menna Barreto, com as climatólogas Ana Luiza Saraiva e Francis Lacerda, com o historiador Rondinelly Medeiros e com a poeta Sophia Faustino, busco conectar lágrimas e chuvas, córneas e caatinga, enchentes e secas, revelando como nossos olhos espelham a crise planetária. Este episódio é um convite a fechar os olhos por instantes, reidratá-los e reaprender a ver — não apenas com a visão, mas também com a escuta, a memória e o imaginário.
No segundo episódio do podcast Olho seco, seguimos o convite feito na estreia: escutar de olhos fechados, deixando que as palavras, vozes e sons abram espaço para imagens internas e para um mergulho sensorial. Neste capítulo, Jorge Menna Barreto nos conduz a uma investigação poética e crítica sobre a seca e a crise climática a partir da obra de João Cabral de Melo Neto, poeta moderno que transformou a aridez em linguagem e estilo. Com leituras de Sophia Faustino, reflexões do professor Ari Vidal e diálogos com o escritor e crítico Cristhiano Aguiar, revisitamos os versos minerais de Cabral, seus encontros entre tema e forma, e sua recusa ao lirismo fácil, para compreender como o “seco” se desdobra em rigor e clareza. Entre memórias de viagem, caminhadas gravadas na Califórnia, análises de poemas como O engenheiro, A educação pela pedra e O cão sem plumas, e ainda a contribuição da escritora Ana Rusche sobre literatura, ficção especulativa e utopias, este episódio propõe uma escuta atenta ao poder da palavra em tempos de aridificação e crise socioambiental. Como nos ensina Cabral, mais do que aceitar o seco resignadamente, é preciso empregá-lo como forma de ver e, sobretudo, de responder ao mundo.
No terceiro e último episódio de Olho seco, nossa investigação sobre o olhar e a aridez se volta às artes visuais, guiada pela obra do artista Antonio Dias, em diálogo com as palavras de João Cabral de Melo Neto. Acompanhados da voz da poeta Sophia Faustino, mergulhamos no universo seco e cortante de Dias, em especial na obra Keep dry my eyes (1968), desdobrada nas reflexões de Iole de Freitas, que compartilha sua experiência próxima com o artista, e da curadora Érica Burini, que recentemente pesquisou sua produção. Exploramos como a aridez se manifesta como método, linguagem e tema, aproximando-se da noção de imagem não-retiniana evocada pela arte conceitual. Ao mesmo tempo, Cris Freire nos conduz por sua trajetória na coleção de arte conceitual do Museu de Arte Contemporânea da USP até sua atual dedicação à agroecologia no Sítio Jatobá, mostrando como atenção e cuidado são eixos que atravessam tanto a arte quanto a natureza. O episódio também se abre para o olhar da artista Letícia Ramos, que investiga modos de ver o invisível por meio da ciência popular e de dispositivos ópticos inventados, e para a curadoria de Júlia Rebouças, que nos convida a pensar palavras como “sertão” enquanto imagens insurgentes e abertas a múltiplos futuros. Entre cortes, retiradas e desertos, este episódio pergunta como a arte pode ser uma aliada para repensarmos o colapso ambiental, ao propor novas formas de ver, sentir e comover.
Criação: Jorge Menna Barreto
Apoio: Instituto Mesa e Office of Research, Universidade da Califórnia, Santa Cruz
Coordenação: Karina Sérgio Gomes
Assistente de Pesquisa: Sophia Faustino
Roteiro: Karina Sérgio Gomes, Sophia Faustino e Jorge Menna Barreto
Som: Bruno Bonaventure para Sound Design
Projeto gráfico: Joe Buggilla
Aquarela: Jorge MascarenhasRevisão
Checagem: Gabriela Erbetta